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Conexões e Influenciadores na Prática – Aplicando ONA em uma Apresentação na ABRH

No cenário empresarial atual, onde a interconectividade é essencial, as redes humanas dentro das organizações são vitais para o sucesso. A Análise de Redes Organizacionais (ONA) surge como uma ferramenta poderosa, capaz de desvendar a estrutura oculta e as dinâmicas das interações entre colaboradores. Ao mapear as conexões dentro da empresa, a ONA permite que os líderes compreendam como a informação e a influência circulam, atravessando fronteiras formais e informais. Essa abordagem oferece ao Recursos Humanos (RH) uma nova perspectiva para reavaliar e otimizar suas estratégias de gestão de talentos, comunicação interna e desenvolvimento organizacional, tornando possível identificar os verdadeiros influenciadores, facilitadores e até gargalos que impactam a eficácia da organização.

Este método não se limita a uma aplicação puramente técnica. Ele oferece uma lente através da qual o RH pode reavaliar e reformular estratégias de gestão de talentos, comunicação interna, e desenvolvimento organizacional. Ao identificar os verdadeiros influenciadores, facilitadores e até mesmo gargalos na comunicação, o RH pode implementar ações mais direcionadas e eficazes, desde a integração de novos funcionários até iniciativas de mudança cultural (na verdade, a gama de utilizações podem ser inúmeras).

A relevância da ONA para o RH reside em sua capacidade de fornecer insights baseados em dados concretos, transformando a maneira como as lideranças entendem e interagem com suas equipes. Em um cenário empresarial que valoriza a agilidade e a inovação, compreender e otimizar as redes internas pode ser o diferencial que permite não apenas acompanhar, mas liderar mudanças no mercado. Assim, o RH não é apenas um executor de políticas, mas um estrategista central que utiliza o conhecimento das redes para fomentar um ambiente de trabalho mais colaborativo e produtivo.

Aplicando ONA em um “welcome coffee” – o que pudemos descobrir?

Recentemente, eu, Marcio Prado e Aline Swalf realizamos a convite da ABRH-SP uma apresentação presencial sobre o uso de conexões e influenciadores em transformação cultural, realizado no dia 24/julho/2024 na sede da ABRH. Foi um evento muito agradável onde tivemos contato com um grupo animado de interessados no tema. O evento começou com um “welcome coffee”, que continha uma dinâmica simples. Cada participante recebeu um post it com um número sequencial, e um outro onde pedimos que anotasse seu próprio número e o número das pessoas com quem conversasse durante o cafezinho. As conversas fluíram livremente. Ao final do “welcome coffee”, recolhemos os posts its e colocamos a informação em um software simples de análise de redes.  Veja a seguir o resultado!

No gráfico abaixo cada círculo é uma pessoa identificada por um número que estava no crachá. Vimos também as conexões entre as pessoas, tanto as que me indicaram, como as que eu indiquei (saintes e entrantes) pois a rede é direcional, como percebemos pela direção das setas. O tamanho do círculo é proporcional ao total de conexões entrantes e saintes que a pessoa demonstrou. Observamos que as pessoas com mais conexões estão localizadas no centro. O círculo preto representa a pessoa com mais conexões, seguido pelos círculos vermelhos e depois os círculos cinzas. Veja de forma gráfica (e bastante visual) as conexões do evento.

Ao observar melhor, é possível identificar alguns grupos com maior interação entre si. Alguns grupos menores e um grupo central que concentrou a maior parte das conversas. Na realidade, esse grupo central era uma roda de conversa muito animada que se formou, e que foi atraindo pessoas no decorrer da conversa.

A rede de bate-papo apresentou uma densidade considerável (23%). Não foram identificadas pessoas isoladas ou com conexão única, e também não houve grupos isolados (‘aqueles grupinhos no canto’). O índice de reciprocidade foi de 63%, embora acreditamos que esse número poderia ter sido maior na prática – muitos participantes preferiram aproveitar o cafezinho e a conversa em vez de registrar todas as suas interações no post it. Com um máximo de 4 conexões, foi possível cobrir toda a rede. Embora 28 pessoas estivessem presentes, ainda seria necessário um número significativo de conexões para garantir que todos estivessem em contato. Em organizações, esse número tende a ser ainda maior!

Em um grupo pequeno é relativamente simples identificar visualmente estas relações. Em grupos bem maiores, há necessidade de se utilizar algumas ferramentas matemáticas simples para realizar esta tarefa, e, portanto, facilitar leitura e identificação. De qualquer forma, a imagem diz muito: quem se conectou com quem. E é exatamente o que acontece nas interações dentro de nossas organizações.

Seriam as pessoas marcadas em preto e vermelho as influenciadoras do grupo?

Certamente as pessoas em preto e vermelho são as pessoas mais conectadas dentro daquele grupo, porém não é possível afirmar que seriam influenciadoras, pois é necessário ter informações em um outro contexto. Por exemplo, as pessoas 2 e 6 aparecem com muitas conexões, porém eram as colaboradoras da ABRH que recepcionavam os convidados! Este é o exemplo de uma informação de contexto que é necessária para entender os resultados.

Além disso, podemos obter mais insights fazendo novas quebras entre os dados objetivos, por exemplo, ao visualizar as conexões entrantes e saintes de cada participante, no gráfico abaixo, podemos ter a seguinte leitura: as pessoas com maior número de conexões entrantes (12 conexões ou mais) ou eram facilitadores do evento ou eram participantes, porém todos com uma característica comum – chegaram cedo ao evento e tiveram condições de participar por mais tempo do “welcome coffee” e fazer mais conexões.

O psicólogo e psiquiatra Jacob Moreno, pioneiro na criação e disseminação do conceito de sociograma, estabeleceu as bases para o entendimento das relações interpessoais dentro de grupos. Contudo, foi a ciência de redes que, ao incorporar rigor matemático às suas ideias, possibilitou a expansão das análises para grupos de qualquer tamanho, incluindo grandes redes sociais. Essa evolução permitiu o desenvolvimento de uma vasta gama de análises, facilitando a rápida identificação de posições centrais na rede, bem como a distinção de comunidades e subcomunidades, entre outras inovações significativas.

Conclusões – o que podemos tirar deste exercício?

O exercício de mapeamento realizado durante o workshop da ABRH revelou várias dinâmicas importantes dentro da rede formada. Identificamos líderes informais, aqueles indivíduos que, mesmo sem posições formais de poder, desempenham um papel crucial na disseminação de informações e na influência sobre seus colegas. Também observamos pontos de gargalo na comunicação, áreas onde o fluxo de informação é restrito ou limitado, muitas vezes concentrado em poucos indivíduos, o que pode criar riscos e ineficiências para a organização.

Estes insights são vitais para o RH por várias razões. Primeira, a identificação de líderes informais pode ajudar no desenvolvimento de estratégias de liderança mais inclusivas e na formação de equipes mais coesas, garantindo que esses influenciadores sejam reconhecidos e devidamente integrados nos planos de desenvolvimento organizacional. Além disso, ao entender os pontos de gargalo, o RH pode desenvolver intervenções que melhorem a comunicação e a colaboração interna, essenciais para a gestão eficaz de mudanças. E, ao combinar as informações fornecidas pela ONA com indicadores de performance, tais como e-NPS, índices de evasão ou absenteísmo, pesquisa de clima ou de engajamento, o RH passa a ter uma ferramenta poderosa de diagnóstico e planejamento de ações e intervenções que de fato trabalhem algumas das causas dos problemas, e não seus sintomas.

Ao final, a Análise de Redes Organizacionais (ONA) se revela não apenas como uma ferramenta de diagnóstico, mas como um verdadeiro catalisador de transformação dentro das empresas. Com ela, é possível enxergar além das hierarquias tradicionais e desvendar as dinâmicas reais que movem uma organização. Para o RH, isso significa a oportunidade de intervir de forma mais precisa e eficaz, moldando um ambiente de trabalho mais colaborativo e adaptável. E, embora tenhamos apenas arranhado a superfície das possibilidades que a ONA oferece, fica claro que seu potencial é vasto. A jornada para explorar essas redes está apenas começando, e as oportunidades de aprendizado e aplicação são tão diversas quanto as conexões que formamos.

Texto elaborado por Juliana Zan e Marcio Prado.

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